sábado, 13 de setembro de 2014

Manu foi pro céu dos cachorros

Tudo começou com a morte da Fifa, em 2007. Cadelinha da raça Fox do meu vô Wilson que adotamos após a morte dele. Fiquei arrasado durante semanas. Porém mal sabia eu que essa tristeza ia passar e o que se acumularia a partir daquele momento seria apenas lembranças de seus latidos contentes quando minha mãe chegava do trabalho. Fifa falava como um ser bípede.

Uma semana depois veio um consolo. Veio um presente chamado Manu. Também da mesma raça da Fifa, porém ao invés do preto e branco, caramelada com branco e olhos esverdeados!

Com apenas um mês de vida e tomada de vermes e afins, os primeiros dias conosco foram difíceis. Mal conseguia ficar em pé por causa das pulgas – minha tia emprestada, a Lu, a trouxe de um canil pífio de Canoas. Ia morrer.

Passaram-se semanas, meses. Manu começava a ficar linda e saudável – e arteira, como uma criança. Amava latir pra nós e fingir que ia morder. Minha mãe, a Vivi, dizia que ela era o famoso “Ataca de destrói”. Eu pegava as patas dela, serrava meus punhos e brincava de “açougue” com ela. Segurando como se fosse uma carne – ela não chorava.

Mas sem dúvida, o que mais gostava naquele "período criança" dela, era colocar a Manu no meu peito e deitar no sofá para assistir tevê. Ficávamos horas e ela ferrava, assim como eu.

Manu foi crescendo, veio o inverno e veio as roupas de lã que minha tia, a Rô, fazia pra ela não passar frio. Duravam dias, porque ela não se sentia bem e comia seus próprios trajes. Que raiva dava!

Nos mudamos depois de dois anos com Manu. Fomos para uma casa que tinha brita no pátio. Ela sofria com isso, certo, mas não me contava. Que período ruim pra ela e pra mim. Nos mudamos de novo.

Viemos pra nossa atual casa em Canoas, onde o terreno é quatro vezes maior, têm árvores, grama e basalto para ela se sentir mais confortável. Dar banho nela era a melhor parte. Minto. Acabar de dar banho e dizer isso pra ela era a melhor parte. Corria o pátio inteiro. Gritava e fingia que ia te morder. Mordia às vezes, de leve.

Era a fiel companheira da minha vó, a Tereca, quando eu ou minha mãe não estávamos em casa. Fazia companhia para minha mãe velha que frequentemente tinha medo de ficar só. Elas se entendiam muito, e em troca deste companheirismo, Dona Tereza dava mimos, como pão de ló, pão com nata, bolinhos de chuva e biscoitos caninos. Manu se fartava.

Hoje, nesse sábado lindo como o branco dos olhos dela, a Manu faleceu. Seus rins pararam de funcionar após cinco convulsões e uma cirurgia para tirar um cisto nos ovários. Morreu dormindo, sem dor, numa competente clínica veterinária no bairro Igara, em Canoas.

Manu tinha apelidos: Tica, titica, leka e às vezes era chamada pelo nome e não pelo diminutivo. Manuela! Deixará eternas lembranças a nós e a todos que a amavam. Era uma cadelinha muito amada. Nunca, nos seus curtos sete anos de vida, avançou em um amigo que entrava no pátio. Muito menos na gente. Ela só pedia uma coisa: amor. E isso dávamos em demasia, assim como mimos alimentícios.

Manu foi pro céu dos cachorros ao meio-dia e pouco deste sábado de 2014.

Te amo pra sempre!


quarta-feira, 23 de julho de 2014

O criador e a criatura

Meu primeiro contato com a "marca" veio cedo. Tinha uns três anos, por aí. Lembro também que gostei do preto, das guampas e principalmente da capa. Ah, os super-heróis e suas capas...

Lembro também que a primeira vez que vi ele desfilar o traje negro e tremular aquela capa pela cidade obscura chamada de Gotham, foi numa das Telas-Quentes da vida. Numa segunda de 1993 passou "Batman", do monstro Tim Burton. Houve êxtase e amor na minha casa.

Passados dois anos meu pai me levou pra ir no cinema. Não, não foi apenas uma ida ao cinema. Foi minha primeira ida ao cinema, localizado na saudosa Praça da Alfândega. O nome era Cine Guarany. Eu já tava mais grandinho, o filme era a bomba "Batman Forever", porém a emoção foi uma das mais indescritíveis da minha vida. A primeira película tem o seu valor. 

Daí em diante tinha de brinquedos (bonecos e bat-móveis) a máscaras e capa. Idolatrava o herói órfão que saía de casa e combatia o crime sem ninguém saber sua real identidade. Achava fantástico o mesmo não possuir poderes sobrenaturais. 

Veio mais bombas, veio mais séries, veio mais gibis, veio mais idolatria. Uma nova era, a de Christopher Nolan, surgiu e levantou o Homem-Morcego, humilhado na sétima arte por um tal de Joel Schumacher. Veio uma trilogia sólida e que levou multidões às salas escuras de todo o mundo. 

E meu sentimento? Minha idolatria pelo "super-herói" (em aspas porque não tem poderes) predileto ia aumentando. Eu, reles criatura, sempre fiquei de joelhos para o criador, por mais pífias participações nos cinemas que ele aparecesse. 

Hoje, segundo a DC Comics, se fala em "Batman Day", mas lembro que num dos meus primeiros contatos eu achava que o justiceiro se escondia atrás da tela do cinema e que um cidadão chamado Michael Keaton fosse realmente o "cara".

Vida eterna ao nosso Batman de todo dia e a ti, Bob Kane, homem responsável por uma das maiores marcas do mundo.

Foto entre Michael Keaton (ator) e Bob Keane (criador), nas filmagens de "Batman" (1989).

domingo, 20 de julho de 2014

Alguns filmes caem bem ver de novo


A Era Dunga. Bom, já vimos este filme mais de uma vez. Primeiro em 1990, na Itália, com aqueles trailers de terror do Sebastião Lazaroni inseridos antes da película principal. Depois em 1994 e o "É nossa, porra!", grito dado pelo capitão ao levantar a taça nos Estados Unidos. Em 1998 uma seleção consolidada e forte com o camisa 8, porém que se intimidou (ou não) com a famosa "Copa da França".

Em 2006 ele retornou como técnico, após a "Festa na Alemanha". Voltou para preparar uma seleção de base forte para a próximo mundial, em 2010, no inédito continente africano.

Muitos falaram na África do Sul em fiasco, arrogância e uma certa "ditadura" com a imprensa, mas o certo é que Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, blindou uma seleção e formou um Time com "T" maiúsculo, que anos antes havia ganhado todas as competições disputadas, mas que ainda assim era motivo de desconfiança. 

A desclassificação para a Holanda nas Quartas veio porque é do jogo, faz parte do futebol perder por 2 a 1 às vezes.

Terça-feira, o gaúcho, que para muitos é prepotente e que dá inúmeras patadas será novamente oficializado pela CBF, no Rio.
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E com isso algumas coisas já posso afirmar neste retorno: Acabou os holofotes de alguns jogadores, pois a Seleção Brasileira é maior que qualquer propaganda publicitária. Acabou a "babação de ovo" entre um jogador e uma emissora de televisão.

Prepare as pipocas, pois tá começando novamente o filme "A Era Dunga"

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Uma Vida baseada em viver


Já pensei em levar uma vida regrada. Vida baseada em um belo café da manhã com leite, suco de laranja, pães quentinhos (ou dormidos, o que é melhor) e granola com iogurte. Almoços regados a infindáveis saladas e legumes, seguido de um adequado lanche da tarde.

Já no início da noite, uma academia para fortalecer os reles músculos que tomam minhas carnes, ajeitar minha postura erronia e me sentir mais disposto. De jantar lá pelas oito da noite a fim de ter uma boa digestão antes de uma necessária boa noite de sono.

Penso, também, em diminuir o álcool nos finais de semana. Isso engloba a cevada, a vodca e o energético. Além dos refrigerantes, claro. A sair menos para não suar em demasia em ambientes fechados onde se encontram diversas bactérias.

De acordar cedo e ter como primeiro ato um belo copo d'água!

Mas daí lembro que se digitar no tio Google o nome "Keith Richards" vou achar fotos como esta. Daí lembro que a essência da Vida é

viver

como um astro da música. Vai que um dia ela, a Vida, te deixe ultrapassar os 70 fazendo tudo ao inverso acima, te faz segurar uma A4 informando o número de fãs que tens e ainda de quebra, te chama pra ser o pai do Johnny Depp num filme qualquer.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Uma missão de 12 meses

“Pamonha” e “palerma” daqui, pimenta no lápis acolá, porém cafunes constantes naquele início de vida escolar. Há 10 anos o vô Wilson, ou “seu vilso” para os próximos, cumpria a sua missão. 

Fatos como a morte da Madre Teresa de Calcutá e princesa Diana, a estreia do South Park e das Chiquititas, de Titanic nas telonas, o lançamento de “Crazy”, do Aerosmith e o Gre-Nal dos 5 a 2, marcaram aquele ano de 1997. Fatos tão importantes para mim quanto os doze meses vividos com o meu avô naquele ano. Um 97 de aprendizado e doutrina absoluta – na amarra.

Era assim: todas as tardes, após aula com a professora Lígia, eu chegava em casa e lá tinha uma salada de frutas. Porém nem tudo era doce. No mesmo instante que eu pisava no então “lar improvisado”, segundo a minha mãe, além de saborear a sobremesa eu tinha que fazer os temas – sim, fazia os temas quando chegava da escola! Era ordem do vô vilso. E se fazia errado ele pegava a borracha e apagava tudo – isso me dava muita raiva e ainda está muito fresco na minha memória. Se mordia o lápis, ele colocava pimenta. 




Após a lição, minutos de Beavis & Butt-head na MTV seguido de desenhos na Net – gostava muito de ver o Zorro também. Jantava com ele e dormia cedo em meu primeiro quarto. Os finais de semanas era regados a Ruffles sabor churrasco e Pepsi. As brincadeiras eram Ferrorama, jogo de botão e bola – pois toda criança precisa de bola. Amava ser goleiro porque ele já tinha sido um também.

Eu era feliz, apesar dos berros seguidos e dos xingamentos cotidianos – nunca levantou a mão.

Em 2004 ele deixou três filhas e dois netos aqui pelo estado. De 2004 pra cá ele me deixou lembranças de um ano muito bem vivido na infância e que constantemente me vem à memória. Lembro dos cafunes na cabeça somados as Sete Belo, o um pila que ele me dava para comprar salgadinho e o amor de um vô com seu neto, que era comentado pelos vizinhos e parentes, tanto pelos gritos quanto pela babação de ovo dele enquanto me via imitá-lo debaixo da goleira.

De vez em quando vejo, sinto e converso com ele através dos sonhos. O que pra mim já é o suficiente, pois se o cara que manda lá em cima resolveu chamar ele é porque aqui em baixo a missão dele já estava executada. A missão dos 12 meses.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Para muitos sempre o mesmo, para a maioria o melhor


Escolhi esta foto porque creio que terá mais a ver com o texto, porém depois explico. 

John Joseph Nicholson, ou apenas “Jack Nicholson” para Hollywood e fãs, sem dúvida, se consolidou na história do cinema. Nunca foi um galã como Clark Gable, teve a virilidade de Marlon Brando ou a altura de Elvis Presley. Porém Jack, com seu olhar (sim, o olhar!), suas sobrancelhas impetuosas e pulinhos com o calcanhar ao falar arrancaram suspiros de muitas senhoras na sala escura.

O charme em pessoa, que completa hoje 77 anos de vida e mais de 50 no cinema, cansou de provar porquê ele é um dos melhores em seu trabalho e um dos maiores atores de todos os tempos. Seu primeiro prêmio veio em 1975, vivendo Randle McMurphy em “Um Estranho No Ninho”, filme que lhe rendeu Oscar de Melhor Ator. O segundo em 1983 com “Laços de Ternura”, recebendo a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante interpretando Garrett Breedlove. A terceiro Oscar veio em 1997, quando Jack viveu Melvin Udall em “Melhor É Impossível” – meu filme preferido.

Porém estas são apenas simples coroações reconhecidas pela Academia, quando se tem num currículo personagens como George Hanson em “Easy Rider” (primeira grande aparição), Jake Gittes em “Chinatown”, Jack Torrance no célebre “O Iluminado”, o diabólico Daryl Van Horne em “As Bruxas de Eastwick”, o eterno Coringa em “Batman”, o frio e rude Coronel Nathan Jessep em “Questão de Honra”, o sanguinário Will Randall em “Lobo”, o apático Warren Schmidt em “As Confissões de Schimidt” e por fim seu último grande trabalho em 2007, quando interpretou o irônico, sarcástico e chefão do crime Frank Costello em “Os Infiltrados”.

Atualmente surgiu o boato de que a lenda viva estivesse “perdendo a memória” e que era por isso o tal afastamento das telonas desde 2010. Esperamos que seja apenas boatos, pois um ator de tamanha presença de tela, expressão, olhar, domínio de cena e com capacidade de salvar filmes, merece nos deleitar por mais alguns anos, pelo menos.

Saúde ao senhor que ficou bravo quando o diretor Christopher Nolan escolheu Heath Ledger para viver o Coringa em “O Cavaleiro das Trevas” – ele disse que tinha condições de viver o vilão de novo, apesar da barriga.

E sabem pelo qual motivo escolhi esta foto do ator à la RG? Porque muitos dizem que ele sempre interpretou a “si próprio” nas telonas – o que não deixa de ser uma grande verdade mentirosa.

Amantes da Sétima Arte de pé, pois Ele (Hollywood o chama desta forma) está de aniversário nessa terça!

quarta-feira, 26 de março de 2014

No dia dos 242 anos de Porto Alegre se chega duas horas após o previsto


Por quê? Respondo. Colocam a dupla grenal para jogar no mesmo dia. Um às 19h30 no Humaitá e o outro às 22h no Vale do Sinos. Com isso, o trânsito que devido às "obras de melhorias para a Copa" já é difícil em horários de lúcifer, fica ainda pior. 

Minha tia, a Rosani, que é professora, funcionária do Estado e que sai todos os dias às 06h da manhã para dar aula no Sarandi a crianças sofridas, chegou 20h em casa, há pouco, quando que seu horário normal, ligando sua tevê e alimentando seu cães em seu doce lar é às 17h. Mofou no trânsito em pé e coxada por homens no ônibus.

Eu, reles estagiário de jornalismo, cheguei em casa há pouco, porém não peguei lentidão no meu trecho trabalho-casa, pois pego o Trensurb. Mas pra contrapor isso, vim numa lata de sardinha num vagão qualquer. Por quê? Respondo. Federação Gaúcha de Futebol esperta, juntamente com qualquer outra coisa ligada a Fortunati, resolveu colocar uma semifinal de campeonato gaúcho (sim, o charmoso) para às 19h30, em Porto Alegre e o outra às 22h, em Novo Hamburgo. Resolve colocar no mesmo horário que muitos portuários estão voltando para o seu lar a fim de alimentar seus cães, descansar e se preparar para mais uma luta no dia seguinte.

Pra completar, pessoas que se dizem seres humanos e torcedores, se provocam nos arredores duma estação e outra devido à "rivalidade". Resultado: algumas coisas quebradas e xingamentos. Coisa pouca. Coisa só pra enfeitar ainda mais o belo cenário obreiro da capital gaúcha.

Estão esperando no final do texto o já clichê "imagina na Copa", né? Não terão, comparsas. A humilhação que o povo porto-alegrense anda passando já é tamanha que palavras não deverão mais serem ditas e sim aceitadas. Temos incrivelmente que nos conformar, como a imagem de um cidadão, que hoje foi visto tomando água numa poça de chuva na Rua da Praia.